sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

NAS TRILHAS DE ECOTURISMO: UMA QUESTÃO DE ACESSIBILIDADE, RESPEITO E INCLUSÃO SOCIAL

Cada vez mais, o ecoturismo está crescendo no Brasil e traçando novos rumos na busca do desconhecido e inexplorado. Queremos conhecer novos horizontes e descobrir locais paradisíacos, onde há surpresas a cada instante, o coração palpita e o suspiro infla os pulmões.
Agora, imagine todas essas belezas longe dos olhos daqueles que não têm a oportunidade de deslumbrar uma paisagem, seja ela uma cachoeira ou uma linda orquídea, paradoxalmente a outros favorecidos que tem olhos e ainda assim não enxergam estas belezas.
Muitas pessoas nasceram ou adquiriram deficiência visual durante o transcorrer da vida e necessitam de uma atenção diferenciada neste tipo de atividade ecoturística. Estas pessoas não enxergam as belezas do mundo como estamos acostumados a mostrar a todos, mas sim de uma outra forma, no entanto, elas não devem ser excluídas desta dádiva proporcionada aos seres humanos.
Essas pessoas não enxergam com os olhos, mas podem enxergar com os outros sentidos do corpo: a fala, a audição, o olfato, o tato e o paladar.
Para colocar estas pessoas em igualdade, recorremos a Constituição Federal, que apresenta a educação ambiental como processo entre ser humano e a coletividade gerando valores sociais, conhecimentos, habilidades, iniciativas e competências para a conservação do meio ambiente e para a sustentabilidade do povo.
Deve proporcionar a todos a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentimento dos valores, as atitudes, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente. Induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto a respeito do meio ambiente.
Uma das metas de qualquer produto do ecoturismo é o trabalho de educação ambiental, pois o visitante motiva-se a formar ou ampliar uma consciência ambiental, preocupada com o patrimônio natural e cultural.
É possível então que a chave para uma reviravolta no que estamos fazendo hoje e chamando de ecoturismo seja observar pessoas que não se encaixam no público convencional do segmento ecoturístico. Pode ser então que na busca por respostas seja possível encontrar algumas com os deficiêntes visuais que não enxergam literalmente o produto vendível atualmente pelas agências e operadoras de turismo.
As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida como qualquer outra pessoa.
Por isso, CASCINO(2000) afirma que excluir, segmentar, não incluir nos debates/reflexões algum aspecto da vida das sociedades, das culturas, dos singulares indivíduos em sua estrita correlação com o meio natural, stricto sensu, é incorrer em grave equívoco conceitual.
Desenvolver projetos de ecoturismo para sensibilizar e conscientizar as pessoas é tarefa árdua que deve impreterivelmente englobar todos os possíveis interessados neste contato com a natureza e para isso os educadores e condutores ambientais devem conseguir passar não simplesmente informações ou belezas, mas sim, um sentimento de cidadania universal.
Além do reconhecimento como cidadãos que têm direitos e de sua crescente inserção no mercado de trabalho, as pessoas com deficiência vêm ganhando espaço também como consumidores. Embora o mercado voltado para eles ainda seja restrito, sua expansão vem se dando em ritmo acelerado.
A inclusão no mercado de trabalho e de consumo é parte de um resgate maior: o da cidadania. As pessoas com deficiência passam a ter, além das suas necessidades especiais, desejos, vontades, necessidades de consumo que, quando confinadas em casa, não existiam. Mais do que isso, descobrem que muitas atividades que realizavam isoladamente podem ser feitas em grupo. É o caso das que compram pacotes turísticos de agências que desenvolvem projetos específicos para atender pessoas com deficiência, incluindo-as em atividades de mergulho, trilhas, exploração de cavernas, rafting e outras modalidades ecoturísticas.
Mesmo com a disponibilização cada vez maior de possibilidades, o deficiente ainda enfrenta diversos problemas, entre eles o preconceito.
Na maioria das vezes as pessoas tentam achar várias possibilidades para justificar os problemas observados ao se encontrarem com um deficiente, que neste estudo são os deficientes visuais. Seja no clube, no estádio de futebol, no shopping, na rua ou até mesmo numa trilha no meio do mato. Será que eles conseguirão terminar o que começaram, como eles chegaram até aqui, é justo esperar por eles para continuar meu passeio, devo perguntar o que aconteceu ou se ele precisa de ajuda?
Essa e muitas outras perguntas vêem a tona, pois muitos não estão preparados para conviver com pessoas com algum tipo de dificuldade. Enquanto que para alguns é uma forma de integração entre os seres humanos, para outros é um momento de estranheza, repussa, incomodo e até mesmo de preconceito.
Não é surpreendente observar pessoas dizendo-se incomodadas e duvidando da capacidade destes indivíduos em permanecer e terminar o percurso de uma trilha de ecoturismo.
Nossa sociedade valoriza certas características em relação ao modo que vivemos e nos portamos. É fácil perceber que somos diferentes uns dos outros, mas algumas diferenças são mais “percebidas” pelas pessoas.
Para FREIRE(1996) faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.
A dificuldade começa com a idéia de se encontrar inserido no ambiente natural, seja ele uma trilha, uma cachoeira, uma caverna ou uma praia. As pessoas já começam achando enormes dificuldades antes de iniciarem a atividade. Pode ser por isso que reagem de maneiras negativas ao encontrar-se com outras pessoas que adquiriram necessidades maiores para alcançar o mesmo objetivo final.
Aquela idéia de natureza perfeita, harmoniosa, perde um pouco do seu encanto ao deixar que os seres humanos se encontrem em situações tão diferentes tentando viver em harmonia. As reações poderão ser de curiosidade, dó, tristeza, incomodo, solidariedade, revolta, orgulho ou até mesmo insensibilidade.
Muitos serão aqueles que se mostrarão solidários e que querem ajudar. Outros mostrarão sentimentos de pena e não devem ser julgados por isso. Não é fácil lidar com os sentimentos do ser humano, mas é possível modificá-los através de mobilização, conscientização e solidariedade. O importante é estar preparado para estes momentos de desconforto, tanto por parte dos Portadores de necessidades especiais, quanto por parte dos outros visitantes.
Muitas vezes o contato sincero pode alcançar resultados que não imaginamos ser possível neste tipo de local. Atitudes como tratamento entre os cegos e videntes como iguais, sem generalizar os aspectos positivos ou negativos dos mesmos.
O cego não é surdo, portanto um bate papo não precisa ser aos berros, nem modifique palavras como ver ou enxergar acreditando que os cegos se sentirão excluídos. Para um deficiente, palavras de dó e piedade ou exclamações de surpresa por estarem fazendo ações simples como ver as horas não ajudam em nada, apenas atrapalham.
Muitas outras ações simples podem ser citadas como exemplo para que a convivência entre todos os ecoturistas aconteça da melhor forma possível.
Para isso, é preciso conhecer as dificuldades dos deficientes visuais e daqueles que estarão trabalhando na condução destes grupos, descobrir como eles deverão interagir, suas dificuldades e as condições de proteção e segurança.
Afinal, as belezas naturais do Brasil pertencem a todos nós, sem nenhuma exclusão ou preconceito.


Escrito por: Sávio Vieira Ramos turismólogo e pós graduado em gestão de turismo ambiental e cultural.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BRASIL. Constituição: República Federativa do Brasil/Brasília, 1988.
CASCINO, Fábio. Educação ambiental: princípios, história e formação de professores. 2ª.ed. – São Paulo: SENAC, 2000
FREIRE, Paulo. A pedagogia da autonomia. São Paulo, Paz e Terra, 1997.
MILLER, Nancy B. Ninguém é perfeito. Tradução Lúcia Helena Reily.—Campinas, SP: Papirus,1995. Série Educação Especial.

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